Santidade na Vida Comum

Santidade na Vida Comum - Victor Naves Advogados

Durante boa parte da minha vida, a fé era mais um rótulo do que uma experiência real. Cresci em um lar católico, é verdade, mas sem grandes envolvimentos espirituais. A igreja do bairro estava ali, a poucos metros de casa, mas quase nunca íamos à missa. A vida seguia seu curso, com os compromissos de sempre, e Deus era uma presença distante, quase simbólica. Quando me mudei com minha família para os Estados Unidos, entre os 12 e 15 anos, essa distância se tornou ainda mais perceptível. Meus pais, em busca de sentido, chegaram a frequentar brevemente algumas igrejas evangélicas. Não havia constância, mas havia uma sede — um desejo silencioso de reencontro com Deus que, àquela altura, ninguém sabia muito bem como saciar.

Foi já de volta ao Brasil, anos mais tarde, que algo começou a mudar. Minha mãe, num desses momentos de busca mais intensa, descobriu o caminho da consagração à Virgem Maria, pelo método de São Luís Maria Grignion de Montfort. Foi um passo simples, mas decisivo. Por meio de Maria, ela reencontrou um caminho de fé mais profundo — e arrastou consigo toda a família. Aquilo que antes era morno, começou a ganhar calor. Pela primeira vez, a fé deixava de ser apenas uma lembrança cultural e se tornava vida concreta.

Eu, pessoalmente, tive meu ponto de virada em uma viagem a Paris. Visitando a Capela da Medalha Milagrosa, fui surpreendido por uma experiência silenciosa, mas marcante. Na simplicidade daquele lugar, senti com clareza a presença de Deus. Não foi uma emoção avassaladora, mas uma certeza serena. Era como se, naquele instante, eu finalmente compreendesse que Deus sempre esteve ali, esperando pacientemente que eu o notasse. Voltei diferente. Aquilo me tocou de um modo que palavras não explicam bem — e me impulsionou a dar passos mais firmes na fé.

Passei a receber os sacramentos com mais frequência, a participar das atividades da Igreja. Por algum tempo, cheguei a ocupar cargos de responsabilidade, como diretor da União dos Juristas Católicos da Arquidiocese de Goiânia. Tudo isso me edificava, mas ainda havia um incômodo: como viver uma fé sólida e constante em meio à vida agitada? Como conciliar o desejo de santidade com a rotina de um advogado, de um pai, de um homem cheio de compromissos? Eu me sentia dividido. Amava Deus, mas tinha dificuldade de transformar esse amor em vida diária. E, no fundo, me perguntava se a santidade era realmente para gente como eu.

Foi então que a Providência me conduziu a um encontro transformador. Conheci Dom Levi Bonatto, à época presidente da União dos Juristas Católicos e hoje bispo auxiliar de Goiânia. Sua vida me impressionava: um homem sério, íntegro, mas profundamente sereno. Via nele um amor pelo trabalho que não era ansioso nem mundano. Havia algo de sobrenatural naquela dedicação discreta. Em uma de nossas conversas, ele me falou de São Josemaria Escrivá e do Opus Dei. A partir dali, comecei a ler seus livros, especialmente Caminho, e a participar das formações espirituais da Obra.

Foi como encontrar uma chave que encaixava perfeitamente na fechadura. A espiritualidade do Opus Dei me revelou algo simples, mas revolucionário: não é preciso sair do mundo para buscar a santidade — é preciso santificar o próprio mundo, de dentro. Cada instante do dia, cada tarefa, cada relação, pode ser vivida com sentido eterno. O trabalho não é apenas esforço: é vocação. A família não é apenas um afeto: é missão. E o cotidiano não é apenas sobrevivência: é lugar de encontro com Deus.

Durante a pandemia, com a rotina suspensa e o tempo aparentemente ocioso, pude mergulhar mais profundamente nesse caminho. Acompanhei retiros de silêncio, recebi direção espiritual, li e meditei com calma. Foi um tempo de purificação e discernimento. Ali compreendi que o segredo da vida cristã não está em fazer muitas coisas, mas em fazer bem o que nos cabe — com amor, com ordem, com espírito de serviço. Que a grandeza está no escondido. Que tudo pode ser oração, desde que seja vivido com retidão e oferta.

Essa espiritualidade começou a transformar meu olhar. Passei a entender que minha vida pessoal e profissional não precisavam competir com minha vida espiritual — elas eram, na verdade, uma só. Não existem “duas vidas” para quem quer seguir a Deus de verdade. Há apenas uma, e ela deve ser plenamente de Cristo.

Hoje, olho para meu trabalho com reverência. Atender um cliente, estudar um processo, orientar um caso: tudo isso, quando feito com espírito de serviço, é meio de santificação. Minha vocação jurídica não é um empecilho à vida espiritual — é parte essencial dela. Do mesmo modo, minha vida familiar — ser esposo, ser pai — é uma escola de virtudes, de entrega, de amor concreto. Encontrei, enfim, uma unidade de vida que antes me parecia impossível. E entendi, com São Josemaria, que tudo é graça.

Não há mais separação entre o sagrado e o profano. Tudo é campo de encontro com Deus. Cada pequeno ato, feito com amor, constrói um caminho de santidade. Como ele dizia, com precisão: “Ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida ordinária, ou nunca O encontraremos.”

Esse é o maior presente que recebi. Não foi uma mudança espetacular, mas uma transformação silenciosa e duradoura. Aprendi que a santidade é para todos — inclusive para mim. E talvez, inclusive para você.

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